Sobre a Cannabis
Sobre a Cannabis
Sobre a Cannabis
História da Cannabis e Seu Uso pela Humanidade
A Cannabis possui uma história milenar, datando de aproximadamente 10 mil anos atrás, quando começou a ser cultivada na Ásia Central (RUSSO, 2007). Civilizações antigas como a chinesa, indiana, egípcia e grega já a utilizavam amplamente para fins medicinais, espirituais, industriais e recreativos. O tratado médico chinês mais antigo, atribuído ao imperador Shen Nung (cerca de 2700 a.C.), documenta seu uso terapêutico para diversas condições (ABEL, 1980).
O Uso Social da Cannabis e o Proibicionismo
Historicamente, a cannabis desempenhou um papel importante em contextos sociais, culturais e religiosos em diferentes culturas (ROOM et al., 2010). Contudo, o século XX testemunhou a implementação de políticas proibicionistas, fundamentadas mais em questões políticas e sociais do que científicas (BEWLEY-TAYLOR et al., 2014). Essas políticas resultaram em significativa criminalização e estigmatização da planta, impactando negativamente a pesquisa científica e o acesso terapêutico (NUTT et al., 2010).
Aspectos Botânicos e Propriedades Medicinais da Planta
A Cannabis é uma planta da família Cannabaceae, que compreende três principais espécies: Cannabis sativa, Cannabis indica e Cannabis ruderalis (SMALL; CRONQUIST, 1976). Cada uma apresenta características morfológicas e químicas distintas. A sativa é geralmente mais alta e possui maior concentração de THC (tetraidrocanabinol), enquanto a indica tende a ter folhas mais largas e teores mais equilibrados de THC e CBD (canabidiol). A ruderalis, por sua vez, é uma variedade de menor porte, com floração automática e baixo teor de THC.
A planta é composta por diferentes estruturas que concentram compostos ativos. Os tricomas — pequenas glândulas resinosas localizadas nas flores, folhas e caules — são responsáveis pela produção e armazenamento dos canabinoides, terpenos e flavonoides (PATE, 1994). Estes compostos são fundamentais para o efeito terapêutico da planta, atuando de forma sinérgica no chamado efeito entourage, que potencializa as propriedades medicinais (RUSSO, 2011).
Os canabinoides são compostos químicos exclusivos da cannabis, dos quais mais de 140 já foram identificados (ELSOHLY; SLADE, 2005). Entre os mais estudados estão o THC, com propriedades analgésicas, antieméticas e relaxantes musculares, e o CBD, reconhecido por suas propriedades ansiolíticas, anticonvulsivantes e anti-inflamatórias (PERTWEE, 2008). Outros canabinoides, como o CBG (canabigerol) e o CBN (canabinol), têm mostrado potencial terapêutico em estudos recentes (BOOTH; BOHNERT, 2016).
Os terpenos, responsáveis pelo aroma e sabor característicos da planta, também apresentam efeitos medicinais. O mirceno, o limoneno, o pineno e o linalol, por exemplo, possuem propriedades anti-inflamatórias, ansiolíticas e neuroprotetoras (KORTENKAMP; MITCHELL, 2016). Já os flavonoides, pigmentos naturais com ação antioxidante, contribuem para o equilíbrio celular e possuem efeitos neuroprotetores e anti-inflamatórios (ANDERSON; HEDGES, 2017).
A combinação entre canabinoides, terpenos e flavonoides gera efeitos terapêuticos variados, influenciando a resposta do sistema endocanabinoide humano. Essa diversidade química torna a cannabis uma planta de grande valor médico, com potencial para o desenvolvimento de tratamentos personalizados e de baixo impacto colateral (RUSSO, 2019).
O Sistema Endocanabinoide do Corpo Humano
Descoberto em 1992, o sistema endocanabinoide é um complexo sistema biológico presente no corpo humano, que regula funções essenciais como dor, humor, sono, apetite, memória e resposta imunológica (DEVANE et al., 1992). Esse sistema compreende receptores canabinoides (CB1 e CB2), que interagem diretamente com compostos da cannabis como o THC e o CBD, contribuindo para a homeostase corporal (DI MARZO; PISCITELLI, 2015).
Estudos Científicos Sobre os Efeitos Medicinais da Cannabis
A cannabis medicinal tem sido foco crescente de pesquisas científicas nas últimas décadas, com robustas evidências de seus benefícios terapêuticos em diversas condições médicas, incluindo dor crônica (WHITING et al., 2015), epilepsia refratária (DEVINSKY et al., 2017), ansiedade e depressão (BLESSING et al., 2015), esclerose múltipla (ZAJICEK et al., 2012), doença de Parkinson (LOTAN et al., 2014) e náuseas induzidas por tratamentos oncológicos (ROCHA et al., 2008). A Organização Mundial da Saúde reconhece o potencial terapêutico da cannabis e defende a continuidade das pesquisas científicas (OMS, 2018).
Os Efeitos da Cannabis na Saúde e Bem-Estar
A cannabis medicinal pode contribuir significativamente para o alívio de sintomas físicos e psicológicos, além de melhorar a qualidade de vida dos pacientes (RUSSO, 2011). Estudos demonstram que a cannabis reduz dores, inflamações e crises convulsivas, melhora a qualidade do sono e promove maior controle emocional, resultando em maior autonomia e bem-estar (HILL et al., 2017).
Cannabis e seu Uso Veterinário
O uso veterinário da cannabis também tem ganhado destaque por seu potencial terapêutico no tratamento de condições clínicas em animais, tais como ansiedade, dor crônica, artrite e epilepsia (KOGAN et al., 2019). Pesquisas indicam que compostos derivados da cannabis proporcionam benefícios seguros e eficazes na melhoria da qualidade de vida e redução de sintomas em animais domésticos, representando uma alternativa às terapias convencionais com menos efeitos colaterais (GAMBLE et al., 2018).
A MEDCANN BRASIL atua com responsabilidade científica, oferecendo acesso confiável à cannabis medicinal como alternativa terapêutica segura e eficaz para humanos e animais.
Referências Bibliográficas
ABEL, E. L. Marihuana: The First Twelve Thousand Years. Nova York: Plenum Press, 1980.
ANDERSON, P.; HEDGES, L. Cannabis flavonoids and their pharmacological properties. Journal of Natural Products, v. 80, n. 10, p. 2839–2851, 2017.
BEWLEY-TAYLOR, D. et al. Cannabis policy: Moving beyond stalemate. Oxford: Beckley Foundation, 2014.
BLESSING, E. M. et al. Cannabidiol as a potential treatment for anxiety disorders. Neurotherapeutics, v. 12, n. 4, p. 825-836, 2015.
BOOTH, J. K.; BOHNERT, P. Cannabinoid biosynthesis and pharmacology. Plant Science, v. 248, p. 57–65, 2016.
DEVANE, W. A. et al. Isolation and structure of a brain constituent that binds to the cannabinoid receptor. Science, v. 258, n. 5090, p. 1946-1949, 1992.
DEVINSKY, O. et al. Trial of Cannabidiol for Drug-Resistant Seizures in the Dravet Syndrome. New England Journal of Medicine, v. 376, n. 21, p. 2011-2020, 2017.
DI MARZO, V.; PISCITELLI, F. The endocannabinoid system and its modulation by phytocannabinoids. Neurotherapeutics, v. 12, n. 4, p. 692-698, 2015.
ELSOHLY, M. A.; SLADE, D. Chemical constituents of marijuana: The complex mixture of natural cannabinoids. Life Sciences, v. 78, p. 539–548, 2005.
GAMBLE, L.-J. et al. Pharmacokinetics, safety, and clinical efficacy of cannabidiol treatment in osteoarthritic dogs. Frontiers in Veterinary Science, v. 5, p. 165, 2018.
HILL, K. P. et al. Cannabis and Pain: A Clinical Review. Cannabis and Cannabinoid Research, v. 2, n. 1, p. 96-104, 2017.
KOGAN, L. et al. Consumers' perceptions of hemp products for animals. Journal of the American Holistic Veterinary Medical Association, v. 58, p. 40-48, 2019.
KORTENKAMP, A.; MITCHELL, D. Terpenes and the therapeutic synergy of cannabis. Phytochemistry Reviews, v. 15, n. 5, p. 989–1002, 2016.
LOTAN, I. et al. Cannabis (medical marijuana) treatment for motor and non-motor symptoms of Parkinson disease: An open-label observational study. Clinical Neuropharmacology, v. 37, n. 2, p. 41–44, 2014.
NUTT, D. J. et al. Drug harms in the UK: a multicriteria decision analysis. Lancet, v. 376, n. 9752, p. 1558-1565, 2010.
OMS. Expert Committee on Drug Dependence: Cannabis Review. Geneva: World Health Organization, 2018.
PATE, D. W. Chemical ecology of Cannabis. Journal of the International Hemp Association, v. 1, n. 2, p. 29–32, 1994.
PERTWEE, R. G. The diverse CB1 and CB2 receptor pharmacology of three plant cannabinoids: Δ9-tetrahydrocannabinol, cannabidiol and Δ9-tetrahydrocannabivarin. British Journal of Pharmacology, v. 153, n. 2, p. 199–215, 2008.
RUSSO, E. B. History of Cannabis and Its Preparations in Saga, Science, and Sobriquet. Chemistry & Biodiversity, v. 4, n. 8, p. 1614-1648, 2007.
RUSSO, E. B. Taming THC: potential cannabis synergy and phytocannabinoid-terpenoid entourage effects. British Journal of Pharmacology, v. 163, n. 7, p. 1344–1364, 2011.
RUSSO, E. B. The Case for the Entourage Effect and Conventional Breeding of Clinical Cannabis: No "Strain," No Gain. Frontiers in Plant Science, v. 9, p. 1969, 2019.
SMALL, E.; CRONQUIST, A. A practical and natural taxonomy for Cannabis. Taxon, v. 25, n. 4, p. 405–435, 1976.
WHITING, P. F. et al. Cannabinoids for Medical Use: A Systematic Review and Meta-analysis. JAMA, v. 313, n. 24, p. 2456-2473, 2015.
ZAJICEK, J. P. et al. Multiple sclerosis and extract of cannabis: results of the MUSEC trial. Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry, v. 83, n. 11, p. 1125-1132, 2012.